domingo, 28 de novembro de 2010

OS "FILHOS DA VIÚVA" NO GRÃO-PARÁ


Comumente apontada entre os principais eventos sociais e políticos do século XIX (Independência, Abolicionismo e República) a maçonaria tem despontado na historiografia como um importante espaço de sociabilidade e de divulgação de idéias liberais/ilustradas. De acordo com Eliane Colussi, a maçonaria poderia ser definida em termos gerais como uma espécie de associação fraternal organizada em torno de rituais e símbolos assentados em torno da questão do segredo e do aperfeiçoamento intelectual da sociedade, caracterizando-se pelas ações filantrópicas e por não orientar política e religiosamente os seus membros (COLUSSI, 1998: 24).
Reza a lenda que Hiram Abiff, filho de uma viúva da tribo de Neftali, era o mestre construtor do templo do rei Salomão e detentor de grandes talentos e virtudes. Sob a sua inspeção os operários da obra teriam sido divididos em três categorias: aprendizes, companheiros e mestres. O objetivo seria possibilitar uma espécie de promoção ao final da construção do templo, para que os companheiros mais dedicados pudessem ser elevados à categoria de mestres e assim pudessem retornar as suas respectivas pátrias em melhores condições do que antes. Aconteceu, porém, que um grupo de companheiros, que ainda não havia concluído seus estudos e tão pouco desfrutava da experiência necessária, resolveu obter a qualquer custo a “palavra sagrada” ou o “segredo” característico exclusivamente dos mestres que era então guardado por Hiram Abiff. Os companheiros assassinaram o mestre construtor, mas não conseguiram arrancar dele o conhecimento que tanto queriam. Numa perspectiva esotérica, a lenda explica a origem da maçonaria. Numa perspectiva histórica ela é apenas um dos elementos que nos ajudam a compreendê-la. Deste modo, a lenda de Hiram Abiff acaba sendo um recurso pedagógico e sociológico que pode ser entendido em seu conjunto de símbolos e alegorias ético-moralizantes que visam imiscuir valores nos membros da maçonaria através dos rituais e demais ensinamentos. Além do que, é dela que provém o termo filho da viúva então tomado como sinônimo de maçom. Outras teorias esotéricas e históricas poderiam ser enumeradas, mas fugiriam ao intuito desta pequena incursão.
De maneira geral, os maçons ou filhos da viúva se estabeleceram no Brasil no inicio do século XIX e tiveram tamanha atuação social que se tornou muito difícil referir certas conjunturas sem mencionar a atuação maçônica. Ainda segundo Colussi, os exemplos seriam muitos e perpassariam pela “independência, a abdicação de d. Pedro I, a difusão do pensamento liberal no Brasil, a questão religiosa, a luta pela separação Estado/Igreja, o abolicionismo, o movimento republicano e outros” (COLUSSI, Op. Cit.: 38). No Pará, a primeira loja foi estabelecida em 1831. Em meio a um conturbado contexto marcado pela memória recente dos acontecimentos em torno da Adesão do Pará à Independência do Brasil em 1823 – quando cerca de 256 presos políticos foram sufocados com cal no porão do navio Brigue Palhaço pelas forças legalistas de D. Pedro I –, da crescente insatisfação diante do descaso para com a região e das constantes nomeações de governos que excluíam as lideranças locais; foi estabelecida na capital paraense a loja maçônica Tolerância. Loja esta que quatro anos mais tarde seria completamente destruída pelos cabanos. E qual a razão disso? Provavelmente a relação feita entre maçonaria e elementos elitistas e estrangeiros.
Somente na década de 1950 a maçonaria paraense voltaria a se reorganizar, vindo a participar de outros eventos sociais importantes como a Questão Religiosa. Neste sentido, torna-se interessante revisitar as experiências da maçonaria na capital paraense para se ponderar a respeito das relações sociais estabelecidas pelos sujeitos ligados à instituição maçônica e aqueles que lhes faziam oposição.
FONTE:SANTOS, Alan C. S. Os filhos da viúva na região amazônica: uma pequena história da maçonaria paraense do século XIX, comunicação apresentada no II Seminário nacional de pós-graduandos em história da instituições, UNIRIO, 2009.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Futebol, Paixão Nacional? Para Graciliano Ramos, Não.


A imagem do Brasil como terra do futebol surgiria só a partir da Copa de 1950, quando a seleção perdeu a final, no Maracanã, para o Uruguai. Na década de 1920, porém, o futebol ainda era uma atividade estrangeira e elitista como o turfe.
Graciliano Ramos, numa crônica em 1921, defendeu que o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil. Acreditava que o esporte combinava com a personalidade “bronca” do brasileiro. Um trecho da Crônica dizia: “Mas por que o football? Não seria, por ventura, melhor exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo? Não é que me repugne a introdução de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão assimiláveis ou não”. (Milton Pedrosa, Gol de letra: O futebol na Literatura Brasileira, pág.167).
Na mesma crônica, o escritor patriota ainda pediu que os jovens esquecessem o esporte e resgatassem, em nome da cultura brasileira, atividades nacionais que andavam esquecidas, como a queda de braço e a rasteira: “Reabilitem os esportes regionais que aí estão abandonados: o porrete, o cachação, a queda de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada e, melhor que tudo, o cambapé, a rasteira. A rasteira! Este, sim, é o esporte nacional por excelência! (Milton Pedrosa, Gol de letra: O futebol na Literatura Brasileira, pág.168).
Hoje, somos considerados o país do futebol, com cinco títulos mundiais e os melhores jogadores do mundo. Então, só resta fazer uma pergunta: Se Graciliano Ramos fosse vivo, o que diria Hoje???
Fonte: Narloch, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A REPÚBLICA E O ESTADO LAICO


Este texto trata das discussões que se desenvolveram dentro do congresso republicano recém-instaurado acerca do casamento civil, da secularização dos cemitérios, da laicidade do ensino, e da institucionalização do divórcio, questões essas que acabariam afastando o regime republicano da simpatia popular.
O casamento civil se tornou a única forma de união conjugal reconhecida pelo Estado republicano. Ficava vedado ao Estado o estabelecimento de um credo oficial. O Brasil tornava-se jurídica e politicamente um país laico.
Os cemitérios, com a República, passariam a ter um caráter secular e sua administração ficaria sob responsabilidade do município. A palavra “secular”deriva do nome “século”, que por sua vez, significa vida profana, ou seja, oposto à vida religiosa. E “profano”, por sua vez, é o que esta fora do espaço sagrado do templo. Daí porque os cemitérios são considerados, pela República, externos à moral religiosa. Porém, ficavam liberados a todos a liberdade de culto, com os rituais próprios para sepultarem seus mortos, desde que não ofendessem a moral pública e as leis.
A laicidade do ensino. O ensino religioso que no Império era obrigatório, com a República perde espaço e prestígio. Seguindo uma visão positivista, o ensino republicano passaria a dar ênfase na propagação das ciências, principalmente, as exatas como a matemática.
O divórcio talvez foi um dos pontos em que republicanos positivistas e religiosos católicos ficaram do mesmo lado. Lauro Sodré, que era um positivista extremado, não concordava com o divórcio, pois, segundo ele, afetava a moral que a sociedade tanto precisava para se desenvolver e evoluir.
Todas essas questões analisadas acima foram alvos de discussões dentro do Congresso republicano. Foi para tentar defender os interesses da Igreja que católicos entraram na política formando os partidos católicos por vários estados do Brasil. De um lado, os constituintes católicos querendo amenizar a perda da hegemonia da Igreja, do outro, a representação do Apostolado Positivista dentro do Congresso para intensificar o projeto de laicidade do Estado.
Desta forma, o regime republicano instaurado em 15 de Novembro de 1889 começaria a despertar a antipatia da população, o que, sem dúvida nenhuma, representou uma séria ameaça para a consolidação do novo regime. Mas isso é tema para o próximo post!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ENEM - EXAME NACIONAL DOS ERROS MEDÍOCRES


Mais uma vez, o que era para ser o momento mais importante da vida de um estudante do Ensino Médio, acabou se tornando um evento cheio de erros, tanto na esfera estrutural (caderno de provas, cartão resposta, escolha de locais de prova, etc) quanto na esfera dos conteúdos da prova.
Na esfera estrutural ocorreu de tudo: Cartão resposta com a ordem das disciplinas invertidas, caderno de provas com questões faltando, cartão resposta sem o nome de identificação do aluno, dentre outros. Ficam então os questionamentos: Como uma prova tão importante, que decide o ingresso do aluno em várias universidades públicas e particulares, pode apresentar erros tão absurdos? Após todos esses problemas apontados, como exigir de nossos educandos concentração e tranqüilidade no momento de resolução das questões?
Na esfera teórica da prova, que envolve os conteúdos cobrados nas questões, também tivemos erros absurdos na parte referente à História (Analisaremos apenas esta disciplina por se tratar do objeto de estudo principal deste blog). A seguir, algumas “pérolas” da prova de História:
1 – Para o Enem, a abertura dos portos ocorreu em 1810. Acreditem! É isso mesmo!!! 1810. Tal falha provocou um comentário do autor do livro de onde a prova teria retirado a informação. No comentário, Laurentino Gomes avisa que tal fato ocorreu em 1808 e faz questão de deixar claro que o seu livro informa de maneira correta e que a falsa informação é de responsabilidade do Enem.
2 – Em outra questão, “sociedades fortemente estratificadas”, para o Enem, são aquelas que apresentam a IMPOSSIBILIDADE DE SE MUDAR DE ESTRATO SOCIAL. A questão gerou discussão uma vez que IMPOSSIBILIDADE é uma palavra complicada de se utilizar neste contexto. Seria mais correto afirmar que “Sociedades fortemente estratificadas” apresentam possibilidades de mudanças sociais bastante limitadas.
Diante de todos esses erros ficam alguns questionamentos: As provas aplicadas não devem ser anuladas? Como uma prova de significado tão importante na Educação brasileira pode apresentar tantos desacertos? De quem é a responsabilidade? E o aluno prejudicado, como deve agir? Continuaremos acompanhando o desenrolar dessa história e torcendo para que as autoridades responsáveis tomem as medidas justas para o bem da Educação brasileira.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

DEODORO E BENJAMIN: LÍDERES DO GOLPE REPUBLICANO



Entrando no clima Republicano do 15 de Novembro, o "História, Educação, e Cultura" inicia uma série de textos relacionados ao Advento da República no Brasil. Começamos então por duas importantes personalidades históricas de nossa República: Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant.
Deodoro da Fonseca (representado na 1° imagem por Hipólito Carón) gozava de grande valor dentro do Exército principalmente pelas suas qualidades guerreiras. Comandava e administrava a guarnição mais poderosa do país e tinha sua vida inteira vinculada ao Exército onde conquistou todas as suas glórias. Sua posição dentro do Exército como típico troupier, militar de campo de batalha, e que havia prestado grandes serviços ao Brasil durante a Guerra do Paraguai, estava bastante insatisfeito com a realidade do Exército dentro do Império. Promoções lentas, vencimentos baixos, a não modernização do Exército e a ausência de investimentos provocavam em Deodoro grande insatisfação com o Governo. Esse contexto de atraso ao qual o Exército estava submetido seria fundamental para que mais tarde Deodoro aderisse à conspiração militar-republicana e liderasse o Exército rumo a Proclamação da República.
Porém, se Deodoro era importante no processo do golpe, Benjamin Constant foi fundamental na liderança dos militares da Escola Militar da Praia Vermelha, mais conhecidos como Mocidade Militar.
Benjamin Constant (representado na 2° imagem) era militar, mas ao contrário de Deodoro, não gostava da carreira militar dos campos de combate, era mais atraído pelo magistério. Era professor da Escola Militar da Praia Vermelha onde iniciou um intenso relacionamento com seus alunos que então constituíam a Mocidade Militar. Para Celso Castro (Autor de “ Proclamação da República”), o fato de Benjamin Constant não gozar de recursos sociais herdados e de sempre ter alcançado sucesso na vida através de méritos próprios, além de ter uma mentalidade cientificista (ele era professor), todos esses fatores serviram de elementos de identificação social com a Mocidade Militar que logo viu nele a liderança ideal para conduzí-los neste processo que culminou com a Proclamação da República. O sentimento de pertencer a uma elite intelectual e a sensação que o Governo tudo fez para prejudicar sua carreira, de certa forma, empurraram Benjamin para o Positivismo onde se filiou rapidamente atraído pelos ideais cientificistas. Porém, de líder a golpista havia uma enorme distancia a ser percorrida.